TEMA 01: FENÔMENO DO RACISMO:
“O Brasil é um dos países mais racistas do
mundo, mas o racismo é velado”.
FONTE: Secretaria de Políticas e Promoção de Igualdade Racial
(SEPPIR)
LINHA DE ARGUMENTAÇÃO/INTERVENÇÃO:
Há
uma tendência forte no movimento antirracista de considerar que a superação do
racismo se dá pela educação. Não é à toa que duas bandeiras fortes do movimento
atual referem-se à educação: a Lei 10.639 que altera a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação ao instituir a temática da história da África e da cultura
afro-brasileira nos conteúdos curriculares do ensino básico e a implementação
das cotas raciais nos processos seletivos das universidades públicas.
DADOS:
Pesquisas
que comprovam a relação intrínseca entre pobreza e cor de pele no Brasil.
A
ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, divulgou um trabalho de
decomposição dos beneficiários do Brasil Sem Miséria, que inclui o Bolsa
Família, o Brasil Carinhoso e o PRONATEC, entre outros. Cerca de três quartos dos beneficiados, mostra o levantamento, são
negros.
Embora
o Bolsa Família não se paute por uma política de afirmação racial, há outros
fatores que estimulam um número maior de negros atendidos. O estudo Vozes
da Nova Classe Média, realizado pelo Ipea neste ano, indicou que, ao declarar-se
preto, as chances de um candidato obter o benefício aumentam em 10%.
Dado
bastante comemorado pelo ministério é a parcela de 65% de negros entre os
matriculados no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego.
Em
relação ao Brasil Carinhoso, que atende famílias com filhos de até 15 anos de
idade, a proporção de pretos ou pardos chega a 77%. O número pode ser explicado
pela taxa de fecundidade. Segundo um estudo do IPEA de 2011, enquanto entre os
negros a média de filhos por mulher é de 2,1, na população branca é de 1,6.
Nos programas direcionados à população rural, a
proporção de negros atendidos é ainda mais alta consequência de sua maior
concentração no campo. Nas cidades, 48% da população é negra, e no meio rural,
61%. Os programas Água para Todos e o Fomento às Atividades Produtivas têm
entre seus beneficiados quase 80% de negros. No caso do Bolsa Verde, que
complementa a renda de quem adota práticas sustentáveis, chega a 92%.
A
iniciativa de estender o Bolsa Família às comunidades quilombolas é o que mais
se aproxima de uma política afirmativa no Brasil Sem Miséria. Segundo o
ministério, há 2.197 comunidades quilombolas reconhecidas, com uma população
estimada de 1,17 milhão de indivíduos.
Por
causa da distância e do isolamento, o governo tem desenvolvido formas
alternativas de atuação, diz Tereza Campello. Hoje são 261,5 mil quilombolas
autodeclarados inscritos no Bolsa Família.
CAUSAS:
O
racismo no Brasil origina-se do fato do capitalismo por aqui ter se construído
com base na acumulação primitiva de riquezas obtida pelo modo de produção
chamado pelo pensador Jacob Gorender, de escravismo
colonial.
O
“escravismo colonial” foi muito
bem conceituado por Gorender – ele sustentou o mercantilismo na Europa durante
muito tempo, possibilitou em certo momento, recursos para inversão em modos de
produção mais avançados e, após a proibição do tráfico de escravos em 1850 (lei
Eusébio de Queiroz), os recursos que eram destinados ao tráfico foram
direcionados para investimentos em sistemas produtivos, possibilitando aí, a
transição negociada do escravismo colonial para o capitalismo.
Reforço
esta ideia da “transição” – não houve ruptura com a ordem anterior e sim uma
transição. A classe dominante brasileira é descendente dos escravocratas. Por
isto, elementos construídos nas relações sociais do escravismo se transfiguram
para o capitalismo. A “tolerância opressiva” de que fala Darcy Ribeiro –
tolerar o outro para poder oprimi-lo – serviu como mecanismo legitimador da
escravização e, atualmente, para a superexploração da mão de obra assalariada.
Negros são tolerados desde que em seu “devido lugar”.
O
racismo no Brasil se manifesta em construção de lugares permitidos para brancos
e negros.
CONCLUSÃO:
Diante
disto, o racismo não se resolve meramente com a educação, até porque a escola,
como instituição social o reproduz. A luta pelas cotas e pela lei 10639 tem uma
função importante de abrir frentes de embate dentro da instituição escolar,
porém sem criar a ilusão de que a
mera implantação resolverá o problema das relações étnicas no Brasil.
A
escola é um espaço de conflitos – demonstrado, nitidamente, quando se ouve um
professor da afirmar, em uma reunião, que “a implantação das cotas poderia
aumentar a violência no campus.” A luta contra o racismo é uma ação, portanto,
de natureza política e não um processo educacional.